Entrevistas ao Leitor

A magia dos detalhes

Engenheira e cake designer, Leonor Vilela cria magia nos detalhes. Na sua cabeceira, a lógica do Sudoku é seduzida pela arte de criar bolos com os inúmeros livros de pastelaria.

  • Como surgiu esta ideia dos bolos?

Desde miúda que gosto de fazer bolos, também porque, confesso, desde miúda que gosto de os comer.
Um dia entrei numa loja de cake design e fiquei maravilhada com “os detalhes” dos bolos em exposição que via e com a panóplia de livros e material existente para a arte! Tive vontade de comprar livros “técnicos” e explorar um bocadinho a matéria mas, como já conhecia bem o meu espírito de colecionadora, achei melhor sair rapidamente da loja.Na altura, colecionava miniaturas de perfume há largos anos e, para ter noção da dimensão, a coleção atingiu as 4000 peças … 
De qualquer forma, a experiência terá ficado registada na minha memória e, uns anos mais tarde, para oferecer o bolo de aniversário dos 40 anos de grande amiga, decidi explorar um bocadinho esse “mundo da pasta de açúcar”. Depois de muitos “cursos” no YouTube, a experiência foi surpreendentemente bem sucedida! Durante os 2 anos seguintes, continuei a presentear algumas das minhas amigas mais queridas com bolos de aniversário e … a surpreender-me a mim própria! 
Mas o grande “clique” surge mais tarde, depois de um longo e difícil projeto de trabalho, onde os níveis de ansiedade atingiram patamares tais, que fizeram-me querer muito deixar de fumar. Fumava 1 maço de tabaco por dia e fui fumadora durante 27 anos. Após deixar de fumar, rapidamente me adaptei no trabalho, mas continuava sem saber estar em casa até descobrir que a “cozinha” era a solução. Nessa altura, durante os fins de semana, comecei a frequentar workshops de pastelaria e cake design e … quanto mais aprendia mais queria saber. Chegou a um ponto em que os gastos mensais, entre workshops e material para “brincar”, atingiram níveis que, das duas uma, ou deixava de fazer workshops ou “obrigava-me”, a aceitar 3 ou 4 encomendas por mês para cobrir, pelo menos, parte dos custos e pôr em prática aquilo que tanto gozo me dá fazer. E assim nasce “Aqui há bolo”

  • Como concilia esse lado mais lógico da engenharia com o lado artístico e criativo dos bolos?

Os bolos são mais uma forma de “desligar” dos “zeros e uns” da informática :-). Este “desligar”, este reset, é muito importante para o meu equilíbrio e para garantir, que os zeros e uns fluirão muito melhor no dia seguinte 🙂

  • Como se inspira já que os seus bolos são obras de arte?

Nas redes sociais, sigo muitos profissionais desta arte e, antes de fazer um bolo, invisto muito, mas muito tempo a pesquisar ideias. 

  • Inspira-se em livros?

Sim, sem dúvida. Sobretudo no que diz respeito a receitas. Adoro livros de pastelaria e … adoro experimentar coisas novas. 

  • Dizem que os nossos pais e avós eram para nós o livro , eram os nossos contadores de histórias. Lembra-se da história que gostava que lhe contassem quando era pequena. Qual o livro que a marcou infância ou adolescência?

A minha avó contava-me tantas histórias! Adorava! Entre as 1.000 histórias de encantar, havia uma que, não faço a menor ideia porquê, gostava particularmente. Não é uma história conhecida. Era a história do João Maria, que não queria tomar banho, cheirava mal, até compreender que os seus amiguinhos não queriam estar ao pé dele. Quando teve essa percepção, esmerou-se de tal ordem, que no dia seguinte não o conheciam ao entrar na sala de aula. E aqui começava a descrição super detalhada da minha avó que eu tanto gostava: o click click dos seus sapatos engraxados, que luziam como novos, o seu fato engomado, o cabelo aprumado, o rasto a perfume que deixava ao passar … E moral da história, o João Maria nunca mais deixou de tomar banho! 

  • Qual ou quais os livros que estão na sua cabeceira?

Livros de passatempos como Sudoku Masters e samurai Sudoku, há sempre. Livros de pastelaria, com 1001 receitas fantásticas que gostaria de experimentar, têm vindo a crescer demasiado … A vontade é muita mas o tempo escasseia … Nas férias, há sempre uns quantos policiais. Confesso que são as únicas alturas do ano em que consigo ler 2 ou 3, ou 4 livros seguidos.

  • Como escolhe os livros que vai ler ou ouvir? Pela capa? Pelo autor? Pela sinopse? Por recomendação?  Pelas críticas, pelo conselho de um amigo em quem confia, pelas montras das livrarias, pelos prémios…

A escolha é geralmente por autores que conheço, e gosto muito, ou por recomendação da minha mãe e irmã, autênticas devoradoras de livros.

  • Qual o estilo que gosta de ler?

Policiais, sem dúvida. Mergulho no livro rapidamente e … lá faço mais um “reset” 🙂

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