As músicas também contam histórias
Convidámos a cantora e compositora Ana Moser para uma entrevista no dia 13 de Julho, dia que celebra o Dia Mundial do Rock, género que une pessoas e que traz alegria aos ouvidos e corações. Para além da emoção, a história da letra é decisiva, ou, não fosse Ana, Ana Stilwell, filha de uma grande escritora portuguesa, para quem escrever é como respirar.
– Como surgiu a música na sua vida?
O meu pai é um pianista maravilhoso (nunca foi profissional mas bem que podia ter sido!) por isso sempre adormeci ao som dele ao piano. A minha tia cantava sempre com ele depois dos nossos jantares de família e eu comecei a juntar-me. Rapidamente tornou-se diário. Os standards de jazz, bossa nova, os musicais eram as “nossas músicas”.
– Qual a música da sua vida?
Ui… isso é mesmo muito difícil porque vai mudando ao longo do tempo. A música torna-se mesmo uma banda sonora para as nossas memórias. Tenho músicas para TUDO, o primeiro namorado, aquela amizade, a minha mãe, o meu pai… certos momentos… E não consigo ouvi-las sem ser imediatamente transportada para essa altura. É literalmente a melhor forma de viajar no tempo. Mas uma das mais marcantes é a Garota de Ipanema do Jobim, porque foi a primeira que cantei ao vivo num restaurante, quando tinha 9 anos.
– Tem alguma música que goste de trautear no verão?
Começo a trautear músicas por tudo e por nada e há uns anos percebi que normalmente a letra expressa aquilo que estou a pensar. No outro dia estava a varrer e quando dei por mim estava a cantar a música da Rapunzel da Disney “tanto trabalho e o chão tem de brilhar…” lol é constante. No verão sai-me sempre uma música que a minha mãe inventou e que nos cantava no carro que é: “Estamos de férias vamos para a praia Biba de bobadi boo” com a melodia da Cinderela 🙂
– Escreveu alguma música neste tempo de pandemia?
Escrevi muitas! E consegui algumas que gosto. Uma, em particular que vai ser o meu próximo single 🙂 Não andar a correr de um lado para o outro e com tanto trabalho fora de casa permitiu-me algum tempo para estar ao piano e deixar fluir o que foi bom.
– O facto de ter uma mãe escritora a intimida a ser uma ávida leitora?
Não, pelo contrário. Sempre nos leu imenso e sempre houve muitos livros à mão. Acima de tudo o prazer que ela própria mostrava em ler e em escrever entusiasmava-me. A minha mãe é uma escritora compulsiva, escrever para ela é como respirar, por isso nunca tive a sensação que para ela escrever fosse uma experiência afastada de mim por isso nunca me intimidou. Aliás sinto que o seu gosto por histórias está muito presente em mim, mesmo nas minhas canções o mais importante é sempre a história que a letra conta… talvez por isso goste tanto da música country porque descreve histórias de uma forma muito visual, com muitos detalhes.
– Livros de cabeceira?
Estou nas últimas páginas de um livro fantástico Chamado “Uma educação” da Tara Westover que conta a sua própria infância criada numa familia mormon ultra conservadora e sobrevivencialista em que os pais não acreditavam no governo ou na escola. É a música que a leva a descobrir outras formas de viver e a questionar o modo de vida dos seus pais!
Estou também a ler um livro chamado Método Wilfart de um professor de canto que tem uma pedagogia um bocadinho diferente e que olha para a nossa voz como uma impressão digital única que carrega também os nossos traumas, as nossas ansiedades e conquistas e que faz um trabalho muito holístico em relação à voz ajudando os cantores – e não só – a descobrir a sua verdadeira voz.
– Qual o livro que recomendaria a quem não tem ainda o hábito de ler?
Recomendo uma página de um livro chamado “Como um Romance” de Daniel Pennac, porque enumera os direitos dos leitores:
- O direito de não ler
- O direito de saltar páginas
- O direito de não acabar um livro
- O direito de reler
- O direito de ler não importa o quê
- O direito de amar os heróis do romance
- O direito de ler não importa onde
- O direito de saltar de livro em livro
- O direito de ler em voz alta
- O direito de não falar do que se leu!
Às vezes acho que fazemos tanta pressão sobre a leitura e sobre como ela deve ser feita. Inundamos os adolescentes com obrigações de leitura na escola que mata o verdadeiro prazer e descoberta. Acho que o mais importante é lerem seja o que for que lhes interessa!
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