A voz da contracapa,  Gente c/ histórias no sangue

Paulo Jorge Pereira – Gente com histórias no sangue

Paulo Jorge Pereira é jornalista, escritor e fundador do blogue «Livros Lidos», que valoriza todas as leituras em voz alta,mas não só… a leitura de uma pauta de música tem espaço num projeto criado para todas as Artes, onde a leitura é o denominador comum.

Paulo Jorge Pereira tem um espírito missionário de alimentar o seu projecto, «Livros Lidos», com leituras que se ouvem, vêem e “OuVem”. Tudo num único projecto, que destaca a importância da leitura em voz alta, na transmissão cultural e para a “musculatura” intelectual de uma sociedade que se quer informada. A pandemia veio expor as fragilidades da sociedade portuguesa ao nível cultural e intelectual. Enquanto, nalguns países, os livros são considerado bens de primeira necessidade, em Portugal, os portugueses parecemos acomodados a uma realidade que se impõe como óbvia, mas que demonstra o quanto o investimento para hábitos de leitura é necessário. Paulo Jorge Pereira fala do modo como os livros são menosprezados e continuam “confinados”, acrescentando que «Comprar livros tornou-se um ato de resistência.»

1. Se te tivesses de dar um título como te definias?

1. Recorro a uma classificação que me foi atribuída por um GRANDE Amigo Jornalista: o sedutor discreto.

2. Fala-nos do teu projecto. O que o diferencia em Portugal? Qual o móbil?

2. O que diferencia o livroslidos.pt é o facto de valorizar todas as leituras em voz alta, incluindo outro tipo de leituras como, por exemplo, a de uma pauta de música, neste caso com quem pretenda interpretar um tema. Nesse sentido, uma pianista romena radicada em Portugal, Amélia Iliescu, já o fez com grande mestria, além de, alguns dias depois, ter enviado também a leitura do excerto de um livro. Mas este é só um exemplo: no dia em que outras Artes forem enviadas em vídeo durante o ato de criação com breves comentários continua a ser uma leitura em que podemos “ouver” quem a faz. Nestes tempos de pandemia, em que as decisões sobre o livro e a Cultura em geral são barbaridades incompreensíveis (#desconfinemolivro JÁ!), comprar livros tornou-se um ato de resistência. E isto, tendo em conta que estamos em Democracia, será sempre algo de impensável. Enquanto o Governo não for capaz de entender que o livro é um bem essencial, as decisões serão sempre merecedoras de desobediência civil, prevista no Artigo 21.º da Constituição.

3. Tens uma relação séria com a leitura ou preferes encontros sem hora marcada?

3. Tenho uma relação séria com a leitura e admito encontros sem hora marcada, porque estes, por vezes, podem até resultar melhor.

4. Devoras livros ou estás em dieta?

4. Tenho sempre tendência para devorar livros e, por vezes, mais do que um em simultâneo.

5. Dizem que os nossos pais e avós eram para nós o livro (já que quando somos mais novos apenas vemos as imagens e somos ouvintes), eram os nossos contadores de histórias. Guardas histórias de infância ou apenas berlindes?

5. No meu caso, as histórias de infância eram contadas pela minha mãe, primeira responsável pela paixão que depressa construí à volta do livro, da leitura e da escrita – contava e cantava histórias que não mais esqueci.

6. Qual a personagem ou personalidade (viva ou já desaparecida) que gostarias que te contasse uma história? E, porquê?

6. Gabriel García Márquez, o escritor cuja obra mais admiro.

7. O que achas que não deve faltar numa biblioteca pessoal e porquê?

7. Qualquer biblioteca pessoal deve ter autores do passado e contemporâneos, com mulheres e homens em paridade e sem privilegiar géneros literários – porque a boa literatura não se reduz a categorias e é intemporal.

8. O que substituías por um livro?

8. Um livro não é um substituto, é um absoluto, não substitui nem é substituível.

9. A cabeceira treme de livros ou apenas com o despertador do telemóvel? O que tens por lá?

9. Só não treme de livros porque, por norma, eles não estão por lá. Mas ando a ler “Contra Mim”, de Valter Hugo Mãe, e Os Mares do Sul, de Manuel Vázquez Montalbán. 

10. Tens livros de vida ou a tua vida dava um livro?

10. Livros de vida penso que todos os leitores têm, tal como os cinéfilos têm filmes de vida: Cem Anos de Solidão; O Amor nos Tempos de Cólera; Pedro Páramo; Paula; Vozes de Chernobyl.

11. Uma decisão na vida que mudaste inspirada pela leitura de um livro. Qual?

11. Não destaco apenas uma, porque mudei muitas sob inspiração não apenas de livros, mas também de filmes, porque o Cinema é outra paixão que tento alimentar o mais possível.

12. Um bom livro existe ou é ficção? Existem livros maus?

12. Bons livros não são ficção, embora muitos sejam de ficção. Maus livros também os há, infelizmente, mas em ambos os casos envolve sempre alguma subjetividade e gosto pessoal: um bom livro para mim pode ser mau para outro leitor.

13. Qual o livro que mais recomendaste até hoje?

13. Cem Anos de Solidão e Pedro Páramo.

14. Se fosses um não leitor, qual o conselho que te davas? Qual/quais os livros que aconselharias a quem não tem o hábito de leitura?

14. “Acorda depressa porque ainda vais a tempo de acabar com a tua ignorância” era o conselho que me daria se fosse não leitor. Recomendo todos de Sophia de Mello Breyner Andresen, Alice Vieira, Isabel Allende, Clarice Lispector, Tânia Ganho, Joana M. Lopes, Alice Munro, Doris Lessing, Maya Angelou, Lídia Jorge, Svetlana Alexievich, Ana Zorrinho, Geraldine Brooks, Irene Flunser Pimentel, Fernando Pessoa, Camões, Eça de Queiroz, José Saramago, Mia Couto, António Lobo Antunes, Gabriel García Márquez, Julio Cortázar, John le Carré, Mario Vargas Llosa, Juan Rulfo, António Damásio, José Luís Peixoto, João Tordo e Ricardo Costa Correia. Pelo menos, porque a lista é interminável…

  • A propósito do lançamento do seu último livro «Murro no estômago», desenvolvemos uma iniciativa para alertar para a violência doméstica contra as mulheres, «7 Dias Strong», que reuniu entrevistas a várias personalidades (entre as quais se encontra o Paulo) para alertar contra este flagelo social.

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